sexta-feira, 23 de novembro de 2007

O Convento

Revelarei algo: há muito tempo desconfio dos critérios do prêmio do Guia Quatro Rodas. Essa desconfiança é a minha sombra desde que vi o 'La Chaumière' em Brasília receber o prêmio ano após ano. Ora! O 'La Chamière' é uma fraude como um restaurante francês sério. Como conseguiu ganhar uma estrela sequer num clube tão seleto de restaurantes em todo o Brasil? Reconheço a importância do prêmio, mas sou obrigado a apontar seus vários deslizes, ainda mais quando vejo que 'O Convento' também foi agraciado com uma estrela.

Situado estratégicamente na Casa D'Italia, em pleno Eixo L 208/209 da Asa Sul, 'O Convento' sempre despertou minha curiosidade. De propriedade da mineira Maria Christina Costa, esse restaurante é decorado com antiquidades provenientes da demolição de um convento de Minas Gerais. Não é a toa que o restaurante também funciona como um antiquário em que todas as peças da loja, sem exceção, estão à venda. No meu afã de experimentar algo como uma cozinha "mineira-fusion" (!), não poderia ser um maior entusiasta para conhecer esse restaurante.

Tendo recebido o prêmio Quatro Rodas (1 Estrela) pelo terceiro ano consecutivo, o que não é pouco considerando que este é o reconhecimento mais importante do país, me enchi de esperanças para o jantar. Indo direto à conclusão da ópera: tragédia.

O serviço é simpático, mas está a anos-luz de ser padronizado. Não é culpa dos garçons, é falta de treinamento por parte da gerência. A carta de vinhos tenta ter variedade, oferecendo aos clientes um leque de países do Velho e do Novo Mundo. No entanto, a carta poderia ter sido montada com mais sensibilidade na escolha, talvez por meio de uma assessoria técnica mais atenciosa. Quanto ao ambiente, é verdade que as antiquidades criam uma atmosfera diferente e cativante para o cliente. Mas muitos, muitos, detalhes precisam ser revistos, para começar com a iluminação e com peças que não se casam com a proposta da casa. Me preocupo com esses detalhes pois eles afetam, inclusive, o aconchego. Mas, justiça seja feita: achei de bom gosto a coleção de vasos antigos visível de todos os cantos do restaurante, além dos móveis rústicos que não se repetem de mesa para mesa.

Mas e a culinária afinal? A casa ousa em colocar pratos tão regionais (como frango ao molho pardo) lado-a-lado de pratos da cozinha internacional. Isso me animou a ter duas experiências: a "Ave do Paraíso" (peito de pato ao molho de amoras com cassis, raclette de brie, coulis de figos e blinis de aipim) e a "Descoberta do Paraíso" (filé de linguado ao molho de alcaparras e nirá servido com banana flambada). Com essa amostragem, notei que a apresentação dos pratos tenta ser profissional, mas o fato é que ela não consegue esconder muitos traços amadorísticos. A harmonia peca (a Ave do Paraíso é por demais adocicado, por exemplo). Porém, nem tudo está perdido. Há outros detalhes que merecem destaque, como as sobremesas típicas e os licores caseiros servidos em belas licoreiras (jaboticaba, genipapo, entre outros).

'O Convento' tem um real potencial para ser um grande restaurante. A sua proposta é rica e atrai. Mas, nas condições atuais de atendimento, ambiente e culinária, está longe de merecer uma estrela sequer no Guia Quatro Rodas (lembrando que, em Brasília, há apenas 11 restaurantes que receberam o prêmio). 'O Convento' merece estar nesse hall da fama? Vai da sua opinião também. Mas até que passe por uma profunda restruturação, 'O Convento' não há de estar entre as minhas recomendações.


Notas
Ambiente 3
Som / Música 2
Atendimento 2
Carta de Vinhos 2

Cozinha
- Apresentação 2
- Harmonia 2
- Variedade 4
- Personalidade 2

Custo/Benefício: 2
Nota Geral: 2

EQS 208/209, Eixo L, Asa Sul - Brasília - DF
Dentro do Casa D'Italia
Telefone: (61) 3343-3104

http://www.oconvento.com.br/

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